Divisão dos Arquivos

O Blog Pablo Neruda Brasil está apresentado em quatro seções obedecendo à data de publicação da matéria:

Arquivo Cecilia Zokner

Os breves textos sobre a poesia de Pablo Neruda foram publicados sob a rubrica Literatura do Continente no jornal O Estado do Paraná, Curitiba e fazem parte, juntamente com outros textos versando sobre Literatura Latino-americana, do Blog http:\\www.literaturadocontinente.blogspot.com.br. Os demais, em outras publicações.

Arquivo Adriana

Chilena de Concepción, amiga desde 1964, quando convivemos em Bordeaux, ao longo dos anos me enviou livros e recortes de jornal sobre Pablo Neruda. Talvez tais recortes sejam hoje, apenas curiosos. Talvez esclareçam algo sobre o Poeta ou abram caminhos para estudos sobre a sua obra o que poderá, eventualmente, se constituir uma razão para divulgá-los.

Arquivo Delson Biondo

Doutor em Literatura na Universidade Federal do Paraná. No ano do centenário de nascimento de Pablo Neruda, convidei Delson Biondo, meu ex-aluno do curso de Letras para trabalharmos sobre “Las vidas del Poeta, as memórias de Pablo Neruda”, constituídas de dez capítulos, publicados, em espanhol, na revista O Cruzeiro Internacional, no ano de 1962. Iniciamos o nosso trabalho com a sua tradução, visando divulgar, no Brasil, esse texto do Poeta que somente anos mais tarde iria fazer parte de seu livro de memórias Confieso que he vivido. Todavia, várias razões impediram que a tradução fosse publicada no Brasil, mas continuamos a trabalhar sobre “Las vidas de Poeta” no que se referia aos aspectos formais comparativamente a esses mesmos textos que passaram a fazer parte de Confieso que he vivido. Além desse estudo comparativo, pretendíamos nos aproximar, minuciosamente de cada um dos capítulos de “Las vidas del Poeta”. A comparação foi realizada e o estudo do primeiro capítulo concluído. Estávamos já, terminando a redação do estudo do segundo capítulo quando Delson Biondo veio a falecer em maio de 2014. Assim, as notas comparativas dos textos nerudianos e o estudo do segundo capítulo de “Las vidas del Poeta” não foram concluídos. Penso que a eles nada devo acrescentar.

Arquivo Aberto

Arquivo Aberto à recepção de trabalhos escritos em português ou espanhol que tratem da obra de Pablo Neruda, obedeçam às normas da ABNT e sejam acompanhados de um breve curriculum do autor. Os trabalhos poderão ser enviados para publicação neste Blog pelo e-mail pablonerudabrasil@gmail.com.

16 de dezembro de 2016

Pablo Neruda: As eliminações na reescrita das suas memórias

Ao retomar os dez capítulos de suas memórias, escritas em 1961, para serem publicadas na revista O Cruzeiro Internacional, com o fito de inclui-los no seu livro autobiográfico Confieso que he vivido (1974), Pablo Neruda fez nesses textos inúmeras modificações. Tanto quanto à pontuação como quanto ao vocabulário e à Sintaxe, essas modificações atenuam ou intensificam ou transformam o sentido do texto. No que se refere à palavras, ou frases ou parágrafos ele  acrescenta, substitui ou elimina. Sobre tais eliminações versarão as linhas que seguem.
Algumas eliminações se explicam por si mesmas, exigidas pelo tempo transcorrido ou por circunstâncias que não mais existem. Assim, as observações sobre seu amigo Manuel Altolaguirre, sólo hace dos años que ha muerto (Capítulo sétimo), [A indicação das páginas de Confieso que he vivido  onde deveriam estar situadas as frases e os parágrafos eliminados, estão indicadas no Estudo Comparativo que acompanha cada uma das transcrições dos capítulos das memórias de O Cruzeiro  que serviram de fonte para o presente estudo.  Pertencem ao Arquivo Delson Biondo.] desaparecem na versão do livro, assim como aquela que se refere ao pintor José Caballero, es ahora el maestro de la Duquesa de Alba(Capítulo sétimo) e ao Puerto Saavedra, hoy destruido por un cataclisma(Capítulo Primero. Ou, quando menciona uma situação do presente que não mais se mostra válida quando da redação de Confieso que he vivido anos depois: Estas Memorias y Recuerdos que he escrito para la Revista “O Cruzeiro  del Brasil” (Conclusión); ou Escribo en Isla Negra en la costa, cerca de Valparaiso, en este año de 1961 (Capítulo quinto).
No capítulo das Memorias de O Cruzeiro, “Dicciones y contradicciones” nas últimas linhas que seguem ao texto dedicado a César Vallejo, Neruda como que teoriza: Como casi todos los seres, todo lo veo claro el lunes, todo lo veo oscuro esl martes y pienso que este año de 1961 es claro-oscuro. Los próximos años serán de color azul. Evidentemente, este ano a que se refere é aquele em que está redigindo suas memórias para a revista brasileira e, assim, na sua segunda redação, dez anos depois, conserva as mesmas frases e elimina, apenas, o ano 1961.
Em outro texto do capítulo VI, Em “Ceilan,la soledad luminosa” da revista Neruda conta que: Recientemente, en estos mismos días, y acercándome ya a los sesenta años, mi hermana me ha traído un cuaderno de mis más antiguas poesías escritas en 1918 y 1919.
Os dez anos que se passaram desde que escrevera para O Cruzeiro tornaram a informação sobre a proximidade de seus sessenta anos ultrapassada. Então, é lógica a eliminação da referência de seus sessenta anos. No entanto, não somente ele a eliminou como não a atualizou ao conservar uma parte da nota temporal: En estos días me ha traído mi hermana un cuaderno que contiene mis más antiguas poesía escritas en 1918 y 1919.
Numas tantas vezes, a eliminação de frases poderá se constituir um desejo de descrição vis à vis de situações que poderiam ser consideradas laudatórias: una comida de gala a la cual había sido envitado (Capítulo VI) e , cuyo episodio final me tocó ser invitado (Capítulo  IX ), De improviso, mientras nos preparábamos para el almuerzo, al que estábamos invitados (capítulo IX).Porém, especialmente interessantes  aquelas eliminações que  sugerem mudanças de sentimentos ou de opinião, uma nova visão de mundo, o desejo de evitar constrangimentos ou inimizades, minorar ou eliminar críticas. As mais curiosas tem a ver com Dominique, mulher de Paul Eluard e com a jovem brasileira com quem cruzou no navio que o levava para a Europa. Ao relatar as dificuldades pelas quais passou Paul Eluard exilado no México suas palavras são, não apenas laudatórias mas plenas de afeto e, em passant, menciona Dominique que foi o seu último amor. Termina o texto dizendo: A ella dedico este recuerdo, ya que su presencia sigue siendo florida.  Frase esta, que foi eliminada em Confieso que he vivido. Algo sucedeu que o indispôs com Dominique e, então, sua presença não continuou a ser florida ou houve alguma interferência que levou a eliminar a opinião elogiosa. Provavelmente, algo semelhante em relação ao que escreveu sobre a jovem que viajava no “Baden”, em 1927. Em Confieso que he vivido diz que na viagem dejé de ver el mundo y el monótono Atlántico para solo contemplar los ojos oscuros y anchos de una joven brasilera, infinitamente brasilera,  que subió al barco en Río de Janeiro, con sus padres y sus dos Hermanos. (pág. No entanto, na primeira versão de suas memórias acrescenta: Aquellos ojos oscuros, que sólo al pasar se enredaron con los míos, duraron mucho en mi recuerdo (Capítulo  III). O passar do tempo eliminou essa lembrança ou, outra vez, houve alguma ingerência para que essa lembrança deixasse de existir? Teria ocorrido o mesmo em relação ao texto em que o Poeta narra a sua chegada em Goiânia, junto com Delia del Carril de quem iria se separar no ano seguinte, para participar do I Congresso Internacional de Intelectuais em 1954? Como já foi dito no artigo “Memorias folhetinescas de Pablo Neruda em O Cruzeiro Internacional” (BIONDO, Delson e Zokner, Cecilia), publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, número 24 (2013) e no Arquivo Delson Biondo do Blog Pablo Neruda Brasil. Evidentemente Matilde Urrutia não o acompanhou nessa viagem  e do Rio de Janeiro, antes de viajar a Goiânia Neruda lhe  escreve amorosamente (Ver Cartas de amor. Pablo Neruda. Edición, Introducción y notas de Darío Oses, Barcelona, Seix Barral, 2010, p.60). Ou a motivação de falar sobre Goiânia num texto que seria publicado no Brasil, na segunda versão deixara de existir? O fato é que esse parágrafo sobre a sua chegada na cidade (Capítulo primeiro de O Cruzeiro  não foi conservado em Confieso que he vivido: Hace cuatro o cinco años, para assistir a un Congreso en Goiânia, hice con el escritor y senador Baltazer Castro un viaje aéreo que me pareció el más largo de los viajes. Por encima del vasto Brasil, el avión de carga en que íbamos atados al asiento, como condenados, tambaleaba y crujía por aquellos huracanados cielos. Y, cuando, maltrechos, por fin llegamos al hotel y tuve valor para asomarme a la ventana, vi una ciudad sin pasado, sin  telarañas, en que todo se estaba empezando a hacer. Otra vez un mundo de ferreterías. Me volví hacia Baltasar y le dije: “Tanto sufrir en el avión, tanto viajar por el mundo, y todo para volver a Temuco.”
Nessa inegável possibilidade de ter lhe ocorrido uma eventual mudança de afetividade, podem estar, igualmente, as frases que, talvez, ele tenha considerado líricas demais: Por qué los trenes ya no llevan pasajeros alegres?  (Capítulo III).  Pero el verano de mi infancia redimía toda la tristeza, pintaba de azul el cielo, de claridad las calles, y de trigo las colinas. (Capítulo I). No es éste el único bien que recibí de Gabriela Mistral. Su dramática poesía y su sonrisa de muchacha traviesa, son cosas que también sigo atesorando (Capítulo I).  Também as relacionadas com a Espanha que se encontram no capítulo VII. Uma delas vem logo depois da pergunta que lhe fez Miguel Hernández: – No podría el vizconde encomendarme un rebaño de cabras por aqui cerca de Madrid! Toda esa época de antes de la guerra tiene para mí un recuerdo como de racimo cuya dulzura ya se va a desprender, tiene una luz como la de rayo verde cuando el sol cae en el horizonte marino y se despide con un destello inolvidable. No capítulo “España en el corazón” de Confieso que he vivido  foi eliminada.  A outra, também pertencente ao sétimo capítulo das memorias de O Cruzeiro é um lamento inserido entre o texto que termina com a frase Góngora un río de rubíes e o que menciona a Valle Inclán: En aquel Madrid que me acogío como hijo y hermano las ilustres figuras me conocieron. Siento no haberlos frecuentado más porque nunca creí que  Madrid fuera perecedero, que tenía un día marcado para que yo lo dejara y no pudiera ya volver. En Confieso que he vivido, após a frase Góngora un río  de rubíes, o parágrafo seguinte trata já de Valle Inclán. Porque, sem dúvida, nos dez anos que transcorreram entre uma redação e outra, houve mudanças de certos sentimentos, assim como de sua visão de mundo. Dai decorrendo a eliminação de textos que não mais estavam em acorde com o que sentia ou pensava. Ao contar o início de sua viagem pelos Andes, fugindo da perseguição policial, menciona Jorge Bellet como chefe de que chamou a “expedição”. Na revista O Cruzeiro, o rotulou de mi amigo e lhe dedica umas linhas  às quais acrescenta informações sobre o tempo e a paisagem: Mi amigo Jorge Bellet era el jefe de la expedición. Antiguo piloto, hombre de acción, ahora montaba un gran aserradero junto al lago Maihue. De allí salimos un día al amanecer. Ya estaban cayendo las primeras lluvias. La selva virgen estaba envuelta en su niebla o lluvia matutina. Em Confieso que he vivido,  consta apenas Mi compañero Jorge Bellet era el jefe de la expedición. Mudou a expressão “mi amigo” por “mi compañero” e eliminou o que dizia sobre ele assim como as referências ao tempo e à paisagem. Já bem claro as conhecidas razões, que levaram à eliminação do texto em que se refere a Alejo Carpentier. Na revista O Cruzeiro, logo depois de relatar a caçada de elefantes, no capítulo VI: El tiempo pasaba en uma placidez ardiente. Había casi terminado de escribir el primero volumen de Residencia en la tierra cuando tuve por primera vez una relación fraternal con escritores de outro mundo, del pequeño o grande mundo europeu que nunca había existido para mí de forma tangible. Alejo Carpentier, en Paris, y luego el joven poeta Rafael Alberti, de quién yo nunca había oído hablar, leyeron los poemas de ese libro y decidieron editarlo.  Aquellas tentativas fueron frustradas, pero me dieron la sensación de que mi poesía no estaba sola, que comenzaba a palpitar fuera de mi destierro. Desde entonces data mi acendrada amistad hacia Alejo Carpentier, a quien ahora he visto firmemente vinculado a su pueblo engrandecido y respetado. Continua mencionando a Rafael Alberti, príncipe de una poesía siempre fresca y fragante, la guerra de España nos dio una hermandad aún más profunda y duradera. Frase que também desapareceu em Confieso que he vivido, mas não a sua admiração pelo poeta espanhol. Além de mencioná-lo várias vezes no seu livro de memórias relacionado a momentos vividos juntos, dedicou a sua poesia um entusiástico texto e influiu, junto com Aragon e Ehrenburg para que lhe fosse concedido o Prêmio Lenin de la Paz. Por outro lado, sua admiração por Ramón Gómez de la Serna en O  Cruzeiro, el mayor poeta de nuestro idioma,  en Confieso que he vivido foi mudado para: es para mí uno de los más grandes escritores de nuestra lengua como eliminado o seu protesto por não ser lembrado como candidato ao premio Nobel: Cuando en nuestra América provinciana se barajan nombres para el Premio Nobel, yo protesto porque no se piensa en este gran escritor desterrado y casi olvidado en el desierto de Buenos Aires.
            É possível que não lhe interessasse, ao redigir as suas memórias, lembrar uma opinião sobre a América e sobre Buenos Aires que não eram muito laudatórias. Como também, aquelas relacionadas a seu país, à Espanha, França e Inglaterra que não apareceram em Confieso que he vivido. De seu país, criticou a subserviência cultural (não isenta nos demais países do Continente) espera el vuelo de una mosca estética em Paris para cambiar la dirección de su própio vuelo, texto que não aparece em Confieso que he vivido. Como tampouco a observação que faz sobre o comportamento do Presidente do Chile que na campanha para se eleger juro hacer  justicia, y su elocuencia activa le atrajo gran simpatia hacer  justicia. Mas como Neruda logo esclarece, os presidentes en nuestra América criolla sufren muchas veces una metamorfosis extraordinaria. E, assim eleito presidente pouco a pouco se converteu em magnate. E agora, diz  Neruda, é Presidente de um Banco Internacional, frase que aparece no nono capítulo da revista e que foi eliminada em Confieso que he vivido, como também o parágrafo que segue: Todo el mundo puede aspirar a ser banqueiro. Es un derecho y un sistema de vida para muchos, el mundo elegante de los clubs de elite. Pero, en este caso, la conversión fue demasiado rápida y descalabrante.
            Portanto, parece não haver mistério no fato de Neruda ter desejado evitar ferir suscetibilidades ao reescrever suas memórias. Assim, o que disse no capítulo sétimo “Tempestad en España!” ao narrar os ataques sofridos por ele, perseguido sistematicamente nos artigos de domingo, pelo poeta espanhol Juan Ramón Jiménez, esclarece: Nunca contesté nada. No respondí – ni respondo – las agresiones literárias. E no próximo parágrafo acrescenta: Este ha sido mi procedimiento, mi manera de polemizar sobre mi persona, antes y ahora. Las rencillas literarias, toda esa guerrilla de baja ley que se alimenta con tantos resentimientos, ha sido pagada por mí con un extravagante silencio que mantengo y que tiene eficacia mortífera. Parágrafo este que foi eliminado en Confieso que he vivido ou com o objetivo  de  minimizar embates com eventuais críticos ou por que tais críticos, absolutamente, já não lhe interessavam? Procurou, igualmente, evitar melindres quando eliminou, na segunda redação de suas memórias,  a frase  trocista com que as inicia na revista O Cruzeiro?  En una revista del Norte, de cuyo nombre no quiero acordarme, hay una sección bobalicona llamada “Mi personaje inolvidable”. Simplista, a frase está longe das belas frases que seguem e se constituem, elas sim, as primeiras linhas de suas memórias.
            Mais instigantes, certamente, aquelas que se referem à atuação das tropas francesas quando da chegada dos republicanos que fugiam do exército de Franco. No capítulo VII das memórias de O Cruzeiro, ao relatar a retirada de milhares de espanhóis que buscavam abrigo na França, ele relata que: En la frontera de Francia  las tropas francesas trataron brutalmente a los hombres que llegaban al largo exilio. No texto de Confieso que he vivido  ele amaina a sua afirmativa, eliminando a situação geográfica precisa e deixando indeterminado o sujeito da ação: Más allá de la frontera trataron brutalmente a los españoles que llegaban al exilio. A informação se torna vaga e, após tantos anos passados, clara somente para alguns.
            Três de suas críticas mais severas se referem à Inglaterra colonialista e se localizam nos capítulos IV, V e VI da revista que relatam sua estada no Oriente. Numa delas, eliminou o seu julgamento de valor. Ao contar que os colonizadores ingleses deram ordem a um de seus funcionários para destruir a cabana de um cingalês com o objetivo de expropriá-lo  de suas terras, não foi obedecido por ele, razão pela qual foi privado de seu cargo e enviado de volta para a Inglaterra. Diz Neruda: El se negó a hacerlo y aunque no pudo impedir la injusticia, fue privado de su cargo. Em Confieso que he vivido, o texto foi modificado pela eliminação da frase  y aunque no pudo impedir la injusticia, deixando ao leitor a interpretação do fato uma vez que, então, se absteve de fazê-lo.   Outros dois textos que não deixam dúvida quanto a sua opinião sobre a política dos colonizadores ingleses foram igualmente eliminados. Um deles, nas memórias de O Cruzeiro está no quarto capítulo  no qual descreve os locais dos fumadores de ópio onde tudo era austero nas suas tarimbas sem pintura e nos seus cachimbos de bambu. No parágrafo seguinte faz um comentário sobre o monopólio do ópio que não é nada lisonjeiro para aqueles que o detém: Cada uno de estos centenares de miles de locales tenía licencia del gobierno inglés, que asumía el monopólio del opio, así como los holandeses em sus colônias vecinas y los mismos ingleses en la China de entonces. En algunos de esos países las entradas del opio proporcionaban a ingleses y holandeses el catorce por ciento de la rentas nacionales. Mientras tanto, en Ginebra, se pavoneaban los pulcros funcionarios de Inglaterra y de Holanda, perfectos gentlemen, perorando en contra de la venta clandestina del opio. – Estos chacales envenenan al mundo, decían en sus discursos, mientras que sus elegantes pantalones rayados eran tal vez comprados con el producto de aquelles sombríos y solemnes fumaderos del Imperio. Certamente por essa razão – não ser nem um pouco lisonjeiro – Neruda elimina o parágrafo. No capítulo quarto de Confieso que he vivido,  o texto “El opio!”  foi escrito a partir de umas poucas frases de suas memórias de O Cruzeiro as quais ele acrescenta a narrativa de sua experiência de fumador de ópio e a sua compreensão do significado dos chineses se entregarem a ele:  Comprendí por que los peones de plantación, los jornaleres, los ricksamen que tiran y tiran del  ricksha todo  el día, se quedaban allí de pronto, oscurecidos, inmóviles… El opio no era el paraíso de los exotistas que me habían  pintado, sino la escapatoria de  los explotados. Mais adiante, ele repete o que havia escrito antes sobre os colonizadores, reafirmando o seu execrável papel:  El opio de los magnates, de los colonizadores se destinaban a los colonizados...Los fumaderos tenían a la puerta su expendio autorizado, su número y su patente… Isto é, o que Neruda escreveria, ainda uma vez, no capítulo quinto da revista O Cruzeiro: - China de 1929 - El paraíso de las concesiones extrangeras, los acorazados europeos frente a los bancos de Shangai  que não confirmaria en Confieso que he vivido. Como tampouco deixou registrada, no libro, essa lembrança terrível da anciã que lhe mostraram: Los ingleses parecían eternos. El recuerdo de una anciana que me mostraron en una casa, todavía me estremece. Me exhibieron sus viejos, arrugados y oscuros pies, que carecían de pulgares.  Se los habían cortado las antiguas autoridades inglesas. Ese era el castigo de la Est Company a las tejedoras y tejedores que en el siglo pasado desobedecían las órdenes del Imperio y se empeñaban en tejer sus propias telas. (Capítulo V da revista O Cruzeiro).
            Mas, de certa forma, o mais terrível texto que ele eliminou em Confieso que he vivido é o que trata do que ele chamou de “tráfico dos perseguidos”. Trata-se de um parágrafo do VIII capítulo das Memorias da revista O Cruzeiro. Era no início da guerra quando Paris apagava suas luzes para se proteger dos bombardeios alemães. No había menos tinieblas en las almas. Junto al olor de sangre que llenaba al llamado Occidente se despertaba la codicia. Comenzó en los Consulados el tráfico de los perseguidos.

                 Por esos días entré repentinamente a la oficina de un Ministro Diplomático de uno de nuestros países de América del Sur. Nunca olvidaré la sorprendente visión que tuve ante mis ojos. Su gran mesa escritorio estaba cubierta de columnas de monedas de oro. Apenas si puso atención a mi entrada. Siguió tomando las monedas y organizando sus columnas. El Ministro era un hombre rechoncho y pálido, con escasos cabellos rubios sobre su brillante cabeza. Sus manos regordetas iban y venían desplazando las libras esterlinas.  Sus blancas manos de monja volaban sobre el oro.
                 En unos días el Ministro se había vuelto millonario. Joyeros de Amsterdam, comerciantes de Bruselas, judíos acaudalados de todas partes le dejaban esos tesoros y montones de relojes y collares por una visa o un pasaporte. El Ministro recibía los presentes, con sus manos de abadesa firmaba los documentos que garantizaban la escapatoria de los perseguidos, pero, poco después, para que todo quedara en silencio, denunciaba a la Gestapo los fugitivos. Poco les había servido la flamante documentación.

            Em  Confieso que he vivido, igualmente logo após o relato da partida de Louis Aragon para a frente de batalha vem o mesmo texto de suas primeiras memórias: Me acostumbré en aquellos días crepusculares a esa incertitumbre europea que no tiene revoluciones continuas ni terremotos, pero el veneno mortal de la guerra saturando el aire  y el pan. Por temor a los bombardeos, la gran metrópoli se apagaba de noche y esa oscuridad de siete millones de seres juntos, esas tinieblas espesas en las que había que andar en plena ciudad luz, se me quedaron fijadas en la memoria. Porém, ao finalizar o texto, eliminando todo aquele que se lhe seguiu, o retrato do ministro, um homem desprezível e a menção a seus  atos desprezíveis, que por alguma razão,  talvez fosse passível de ser identificado, Neruda não desejou  que tornasse a ser publicado.
            Deveras instigante, considerando-se a sua extensão (cinco parágrafos) a eliminação do texto que aparece nas memórias de O Cruzeiro que se inicia com uma frase que á continuação do parágrafo anterior: Era conducto de um tren lastrero. Em Confieso que he vivido, igualmente, dando continuação ao parágrafo anterior, a mesma frase. Mas o texto que segue é outro e diferente daquele que foi eliminado que, no entanto, contém informações que não são em nada negligenciáveis.
           
            Era conductor de un tren lastrero Estos trenes lastreros conducían piedras y arena que depositaban entre los durmientes de la línea férrea, para que la intensa lluvia no moviera los rieles. Debiendo excavar el lastre de las canteras, este tren de mi padre permanecía en cualquier rincón selvático, por semanas completas.
            El tren era novelesco. Primero, la gran locomotora antigua, luego los innumerables carros planos en los que la pala excavadora depositaba las pequeñas montañas de la entraña terrestre, después los carros de los peones, por lo general, rudos gañanes de vida desordenada, y luego el vagón en que vivían sobre ruedas mi padre y el telegrafista. Todo eso en medio de faroles de vidrios verdes y rojos, de banderas de ceñales y mantas de tempestad, de olor aceite, de hierros oxidados, y con mi padre, pequeño soberano de barba rubia y ojos azules, dominando como un capitán de barco la tripulación y la travesía.
                        Viajé muchas veces por los ramales en esta casita de mi padre que se detenía junto a la selva primaveral, selva virgen que me reservaba los más espléndidos tesoros, inmensos helechos, escarabajos deslumbrantes, curiosos huevos de aves silvestres.

            Neste trabalho de  relacionar algumas  das mudanças feitas no texto das memórias de 1961 quando de sua reescrita para o livro Confieso que he vivido que visou somente as eliminações ficou evidente que nos três capítulos iniciais as mudanças e, assim, também, as eliminações, foram em pequeno número. Somente a partir do quarto capítulo e que elas começaram, quanto à quantidade, a serem mais significativas. E quanto aos significados das eliminações, eles parecem ter sido os mais diversos: os passíveis de serem justificáveis, exigidos pela passagem do tempo ou outros cujos motivos, aparentemente, não são muito fáceis ou impossíveis de desvendar. O que, no entanto, não deixou dúvidas foi a evidência da transformação do texto de 1961 para o seu aproveitamento em Confieso que he vivido que um estudo mais apurado e abrangente só poderá vir a confirmar.   E que, sem dúvida, mostrará facetas do Poeta quanto a seu cuidado pela forma (valha o conceito antigo) e quanto à sua maneira de pensar ou de sentir transformada pela passagem do tempo ou das  circunstâncias.


Cecilia Zokner, Trabalho inédito, Curitiba, 16 de dezembro de 2016