Ao
retomar os dez capítulos de suas memórias, escritas em 1961, para serem
publicadas na revista O Cruzeiro
Internacional, com o fito de inclui-los no seu livro autobiográfico Confieso que he vivido (1974), Pablo
Neruda fez nesses textos inúmeras modificações. Tanto quanto à pontuação como
quanto ao vocabulário e à Sintaxe, essas modificações atenuam ou intensificam
ou transformam o sentido do texto. No que se refere à palavras, ou frases ou parágrafos
ele acrescenta, substitui ou elimina.
Sobre tais eliminações versarão as linhas que seguem.
Algumas
eliminações se explicam por si mesmas, exigidas pelo tempo transcorrido ou por
circunstâncias que não mais existem. Assim, as observações sobre seu amigo
Manuel Altolaguirre, sólo hace dos años
que ha muerto (Capítulo sétimo), [A
indicação das páginas de Confieso que he
vivido onde deveriam estar situadas
as frases e os parágrafos eliminados, estão indicadas no Estudo Comparativo que
acompanha cada uma das transcrições dos capítulos das memórias de O Cruzeiro que serviram de fonte para o presente
estudo. Pertencem ao Arquivo Delson Biondo.] desaparecem na
versão do livro, assim como aquela que se refere ao pintor José Caballero, es ahora el maestro de la Duquesa de Alba(Capítulo sétimo) e ao Puerto
Saavedra, hoy destruido por un cataclisma(Capítulo
Primero. Ou, quando menciona uma situação do presente que não mais se
mostra válida quando da redação de Confieso
que he vivido anos depois: Estas
Memorias y Recuerdos que he escrito para la Revista “O Cruzeiro del Brasil” (Conclusión); ou Escribo en Isla Negra en la costa, cerca de
Valparaiso, en este año de 1961 (Capítulo quinto).
No
capítulo das Memorias de O Cruzeiro, “Dicciones
y contradicciones” nas últimas linhas que seguem ao texto dedicado a César
Vallejo, Neruda como que teoriza: Como
casi todos los seres, todo lo veo claro el lunes, todo lo veo oscuro esl martes
y pienso que este año de 1961 es claro-oscuro. Los próximos años serán de color
azul. Evidentemente, este ano a que se refere é aquele em que está
redigindo suas memórias para a revista brasileira e, assim, na sua segunda
redação, dez anos depois, conserva as mesmas frases e elimina, apenas, o ano 1961.
Em outro texto do capítulo VI, Em
“Ceilan,la soledad luminosa” da revista Neruda conta que: Recientemente, en estos mismos días, y acercándome ya a los sesenta
años, mi hermana me ha traído un cuaderno de mis más antiguas poesías escritas
en 1918 y 1919.
Os
dez anos que se passaram desde que escrevera para O Cruzeiro tornaram a informação sobre a proximidade de seus
sessenta anos ultrapassada. Então, é lógica a eliminação da referência de seus
sessenta anos. No entanto, não somente ele a eliminou como não a atualizou ao
conservar uma parte da nota temporal: En
estos días me ha traído mi hermana un cuaderno que contiene mis más antiguas
poesía escritas en 1918 y 1919.
Numas
tantas vezes, a eliminação de frases poderá se constituir um desejo de
descrição vis à vis de situações que poderiam ser consideradas laudatórias: una comida de gala a la cual había sido
envitado (Capítulo VI) e , cuyo
episodio final me tocó ser invitado (Capítulo IX ), De
improviso, mientras nos preparábamos
para el almuerzo, al que estábamos invitados (capítulo IX).Porém,
especialmente interessantes aquelas
eliminações que sugerem mudanças de
sentimentos ou de opinião, uma nova visão de mundo, o desejo de evitar
constrangimentos ou inimizades, minorar ou eliminar críticas. As mais curiosas
tem a ver com Dominique, mulher de Paul Eluard e com a jovem brasileira com
quem cruzou no navio que o levava para a Europa. Ao relatar as dificuldades
pelas quais passou Paul Eluard exilado no México suas palavras são, não apenas
laudatórias mas plenas de afeto e, em passant, menciona Dominique que foi o seu
último amor. Termina o texto dizendo: A ella dedico este recuerdo, ya que su presencia sigue siendo
florida. Frase esta, que foi eliminada em Confieso que he vivido. Algo sucedeu que o indispôs com Dominique e, então,
sua presença não continuou a ser florida ou houve alguma interferência que
levou a eliminar a opinião elogiosa. Provavelmente, algo semelhante em relação
ao que escreveu sobre a jovem que viajava no “Baden”, em 1927. Em
Confieso que he vivido diz que na
viagem dejé de ver el mundo y el monótono
Atlántico para solo contemplar los ojos oscuros y anchos de una joven
brasilera, infinitamente brasilera, que
subió al barco en Río de Janeiro, con sus padres y sus dos Hermanos. (pág.
No entanto, na primeira versão de suas memórias acrescenta: Aquellos ojos oscuros, que sólo al pasar se
enredaron con los míos, duraron mucho en mi recuerdo (Capítulo III). O passar do tempo eliminou essa lembrança ou, outra vez,
houve alguma ingerência para que essa lembrança deixasse de existir? Teria
ocorrido o mesmo em relação ao texto em que o Poeta narra a sua chegada em
Goiânia, junto com Delia del Carril de quem iria se separar no ano seguinte,
para participar do I Congresso Internacional de Intelectuais em 1954? Como já
foi dito no artigo “Memorias folhetinescas de Pablo Neruda em O Cruzeiro Internacional” (BIONDO, Delson e
Zokner, Cecilia), publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Goiás, número 24 (2013) e no Arquivo Delson Biondo do Blog Pablo Neruda
Brasil. Evidentemente Matilde Urrutia não o acompanhou nessa viagem e do Rio de Janeiro, antes de viajar a
Goiânia Neruda lhe escreve amorosamente
(Ver Cartas de amor. Pablo Neruda. Edición, Introducción
y notas de Darío Oses, Barcelona, Seix Barral, 2010, p.60). Ou a motivação de falar sobre Goiânia
num texto que seria publicado no Brasil, na segunda versão deixara de existir?
O fato é que esse parágrafo sobre a sua chegada na cidade (Capítulo primeiro de
O Cruzeiro não foi conservado em Confieso que he vivido: Hace
cuatro o cinco años, para assistir a un Congreso en Goiânia, hice con el escritor
y senador Baltazer Castro un viaje aéreo que me pareció el más largo de los
viajes. Por encima
del vasto Brasil, el avión de carga en que íbamos atados al asiento, como
condenados, tambaleaba y crujía por aquellos huracanados cielos. Y, cuando,
maltrechos, por fin llegamos al hotel y tuve valor para asomarme a la ventana,
vi una ciudad sin pasado, sin telarañas,
en que todo se estaba empezando a hacer. Otra vez un mundo de ferreterías. Me
volví hacia Baltasar y le dije: “Tanto sufrir en el avión, tanto viajar por el
mundo, y todo para volver a Temuco.”
Nessa
inegável possibilidade de ter lhe ocorrido uma eventual mudança de afetividade,
podem estar, igualmente, as frases que, talvez, ele tenha considerado líricas
demais: Por qué los trenes ya no llevan
pasajeros alegres? (Capítulo III). Pero el
verano de mi infancia redimía toda la tristeza, pintaba de azul el cielo, de
claridad las calles, y de trigo las colinas. (Capítulo I). No es éste el único bien que recibí de
Gabriela Mistral. Su dramática poesía y su sonrisa de muchacha traviesa, son
cosas que también sigo atesorando (Capítulo I). Também as relacionadas com a Espanha que se encontram no
capítulo VII. Uma delas vem logo depois da pergunta que lhe fez Miguel
Hernández: – No podría el vizconde encomendarme
un rebaño de cabras por aqui cerca de Madrid! Toda esa época de antes de la guerra tiene para mí un recuerdo como de
racimo cuya dulzura ya se va a desprender, tiene una luz como la de rayo verde
cuando el sol cae en el horizonte marino y se despide con un destello
inolvidable. No capítulo “España en el corazón” de Confieso que he vivido foi eliminada. A outra, também pertencente ao sétimo
capítulo das memorias de O Cruzeiro é
um lamento inserido entre o texto que termina com a frase Góngora un río de
rubíes e o que menciona a Valle Inclán: En
aquel Madrid que me acogío como hijo y hermano las ilustres figuras me
conocieron. Siento no haberlos frecuentado más porque nunca creí que Madrid fuera perecedero, que tenía un día
marcado para que yo lo dejara y no pudiera ya volver. En Confieso que he vivido, após a frase Góngora
un río de rubíes, o parágrafo seguinte trata já de Valle Inclán. Porque, sem dúvida, nos dez anos que transcorreram
entre uma redação e outra, houve mudanças de certos sentimentos, assim como de
sua visão de mundo. Dai decorrendo a eliminação de textos que não mais estavam
em acorde com o que sentia ou pensava. Ao contar o início de sua viagem pelos
Andes, fugindo da perseguição policial, menciona Jorge Bellet como chefe de que
chamou a “expedição”. Na revista O
Cruzeiro, o rotulou de mi amigo e
lhe dedica umas linhas às quais
acrescenta informações sobre o tempo e a paisagem: Mi amigo Jorge Bellet era el jefe de la expedición. Antiguo piloto, hombre de acción,
ahora montaba un gran aserradero junto al lago Maihue. De allí salimos un día
al amanecer. Ya estaban cayendo las primeras lluvias. La selva virgen estaba
envuelta en su niebla o lluvia matutina. Em Confieso que he vivido, consta apenas Mi compañero Jorge Bellet
era el jefe de la expedición. Mudou a expressão “mi amigo” por “mi compañero” e eliminou o
que dizia sobre ele assim como as referências ao tempo e à paisagem. Já bem
claro as conhecidas razões, que levaram à eliminação do texto em que se refere
a Alejo Carpentier. Na revista O
Cruzeiro, logo depois de relatar a caçada de elefantes, no capítulo VI: El tiempo pasaba en uma placidez ardiente. Había casi terminado de escribir el
primero volumen de Residencia en la
tierra cuando tuve por primera vez una relación fraternal con escritores de
outro mundo, del pequeño o grande mundo europeu que nunca había existido para
mí de forma tangible. Alejo Carpentier, en Paris, y luego el joven poeta Rafael
Alberti, de quién yo nunca había oído hablar, leyeron los poemas de ese libro y
decidieron editarlo. Aquellas tentativas
fueron frustradas, pero me dieron la sensación de que mi poesía no estaba sola,
que comenzaba a palpitar fuera de mi destierro. Desde entonces data mi
acendrada amistad hacia Alejo Carpentier, a quien ahora he visto firmemente
vinculado a su pueblo engrandecido y respetado. Continua
mencionando a Rafael Alberti, príncipe de
una poesía siempre fresca y fragante, la guerra de España nos dio una hermandad
aún más profunda y duradera. Frase que também desapareceu em Confieso que he vivido, mas não a sua admiração pelo poeta
espanhol. Além de mencioná-lo várias vezes no seu livro de memórias relacionado
a momentos vividos juntos, dedicou a sua poesia um entusiástico texto e
influiu, junto com Aragon e Ehrenburg para que lhe fosse concedido o Prêmio Lenin
de la Paz. Por outro lado, sua admiração por Ramón Gómez de la
Serna en O Cruzeiro,
el mayor poeta de nuestro idioma, en Confieso
que he vivido foi mudado para: es
para mí uno de los más grandes escritores de nuestra lengua como eliminado
o seu protesto por não ser lembrado
como candidato ao premio Nobel: Cuando en
nuestra América provinciana se barajan nombres para el Premio Nobel, yo
protesto porque no se piensa en este gran escritor desterrado y casi olvidado en
el desierto de Buenos Aires.
É possível que não lhe interessasse, ao redigir as
suas memórias, lembrar uma opinião sobre a América e sobre Buenos Aires que não
eram muito laudatórias. Como também, aquelas relacionadas a seu país, à
Espanha, França e Inglaterra que não apareceram em Confieso que he vivido.
De seu país, criticou a subserviência cultural (não isenta nos demais países do
Continente) espera el vuelo de una mosca
estética em Paris para cambiar la dirección de su própio vuelo, texto que
não aparece em Confieso que he vivido.
Como tampouco a observação que faz sobre o comportamento do Presidente do Chile
que na campanha para se eleger juro hacer justicia, y su elocuencia activa le atrajo
gran simpatia hacer justicia. Mas como
Neruda logo esclarece, os presidentes en
nuestra América criolla sufren muchas veces una metamorfosis extraordinaria. E, assim eleito presidente pouco a
pouco se converteu em magnate. E agora, diz
Neruda, é Presidente de um Banco
Internacional, frase que aparece no nono capítulo da revista e que foi
eliminada em Confieso que he vivido,
como também o parágrafo que segue: Todo
el mundo puede aspirar a ser banqueiro. Es un derecho y un sistema de vida para muchos, el mundo elegante de
los clubs de elite. Pero, en este caso, la conversión fue demasiado rápida y
descalabrante.
Portanto, parece não haver mistério no fato de Neruda
ter desejado evitar ferir suscetibilidades ao reescrever suas memórias. Assim,
o que disse no capítulo sétimo “Tempestad en España!” ao narrar os ataques
sofridos por ele, perseguido sistematicamente nos artigos de domingo, pelo
poeta espanhol Juan Ramón Jiménez, esclarece: Nunca contesté nada. No
respondí – ni respondo – las agresiones literárias.
E no próximo parágrafo acrescenta: Este
ha sido mi procedimiento, mi manera de polemizar sobre mi persona, antes y
ahora. Las rencillas literarias, toda esa guerrilla de baja ley que se alimenta
con tantos resentimientos, ha sido pagada por mí con un extravagante silencio que
mantengo y que tiene eficacia
mortífera. Parágrafo
este que foi eliminado en Confieso que
he vivido ou com o objetivo de minimizar embates com eventuais críticos ou
por que tais críticos, absolutamente, já não lhe interessavam? Procurou,
igualmente, evitar melindres quando eliminou, na segunda redação de suas
memórias, a frase trocista com que as inicia na revista O Cruzeiro? En una revista del Norte, de cuyo nombre no quiero acordarme, hay una
sección bobalicona llamada “Mi personaje inolvidable”. Simplista, a frase está longe das belas
frases que seguem e se constituem, elas sim, as primeiras linhas de suas
memórias.
Mais instigantes, certamente,
aquelas que se referem à atuação das tropas francesas quando da chegada dos
republicanos que fugiam do exército de Franco. No capítulo VII das memórias de O Cruzeiro, ao relatar a retirada de
milhares de espanhóis que buscavam abrigo na França, ele relata que: En la frontera de Francia las tropas francesas trataron brutalmente
a los hombres que llegaban al largo exilio. No texto de Confieso que he vivido ele amaina a sua afirmativa, eliminando a
situação geográfica precisa e deixando indeterminado o sujeito da ação: Más allá de la frontera trataron
brutalmente a los españoles que llegaban al exilio. A informação se torna
vaga e, após tantos anos passados, clara somente para alguns.
Três de suas críticas mais severas
se referem à Inglaterra colonialista e se localizam nos capítulos IV, V e VI da
revista que relatam sua estada no Oriente. Numa delas, eliminou o seu
julgamento de valor. Ao contar que os colonizadores ingleses deram ordem a um
de seus funcionários para destruir a cabana de um cingalês com o objetivo de
expropriá-lo de suas terras, não foi
obedecido por ele, razão pela qual foi privado de seu cargo e enviado de volta
para a Inglaterra. Diz Neruda: El se negó a hacerlo y aunque no pudo impedir la injusticia, fue
privado de su cargo. Em
Confieso que he vivido, o texto foi
modificado pela eliminação da frase y aunque no pudo impedir la injusticia, deixando
ao leitor a interpretação do fato uma vez que, então, se absteve de fazê-lo. Outros dois textos que não deixam dúvida
quanto a sua opinião sobre a política dos colonizadores ingleses foram
igualmente eliminados. Um deles, nas memórias de O Cruzeiro está no quarto capítulo no qual descreve os locais dos fumadores de
ópio onde tudo era austero nas suas tarimbas sem pintura e nos seus cachimbos
de bambu. No parágrafo seguinte faz um comentário sobre o monopólio do ópio que
não é nada lisonjeiro para aqueles que o detém: Cada uno de estos centenares de miles de locales tenía licencia del
gobierno inglés, que asumía el monopólio del opio, así como los holandeses em
sus colônias vecinas y los mismos ingleses en la China de entonces. En algunos de esos países las
entradas del opio proporcionaban a ingleses y holandeses el catorce por ciento
de la rentas nacionales. Mientras tanto, en Ginebra, se pavoneaban los pulcros
funcionarios de Inglaterra y de Holanda, perfectos gentlemen, perorando en
contra de la venta clandestina del opio. – Estos chacales envenenan al mundo,
decían en sus discursos, mientras que sus elegantes pantalones rayados eran tal
vez comprados con el producto de aquelles sombríos y solemnes fumaderos del
Imperio. Certamente por essa razão – não ser
nem um pouco lisonjeiro – Neruda elimina o parágrafo. No
capítulo quarto de Confieso que he
vivido, o texto “El opio!” foi escrito a partir de umas poucas frases de
suas memórias de O Cruzeiro as quais
ele acrescenta a narrativa de sua experiência de fumador de ópio e a sua
compreensão do significado dos chineses se entregarem a ele: Comprendí por que los peones de plantación,
los jornaleres, los ricksamen que tiran y tiran del ricksha todo el día, se quedaban allí de pronto,
oscurecidos, inmóviles… El opio no era el paraíso de los exotistas que me
habían pintado, sino la escapatoria
de los explotados. Mais adiante, ele
repete o que havia escrito antes sobre os colonizadores, reafirmando o seu
execrável papel: El opio de los magnates, de los colonizadores se destinaban a los
colonizados...Los fumaderos tenían a la puerta su expendio autorizado, su
número y su patente… Isto é, o que Neruda escreveria, ainda uma vez, no
capítulo quinto da revista O Cruzeiro: - China de 1929 - El paraíso de las
concesiones extrangeras, los acorazados europeos frente a los bancos de Shangai
que não confirmaria en Confieso que he vivido. Como tampouco deixou registrada, no
libro, essa lembrança terrível da anciã que lhe mostraram: Los ingleses parecían eternos. El recuerdo de una anciana que me mostraron en una casa, todavía me
estremece. Me exhibieron sus viejos, arrugados y oscuros pies, que carecían de
pulgares. Se los habían cortado las
antiguas autoridades inglesas. Ese era el castigo de la Est Company a las
tejedoras y tejedores que en el siglo pasado desobedecían las órdenes del
Imperio y se empeñaban en tejer sus propias telas.
(Capítulo V da revista O Cruzeiro).
Mas, de certa forma, o mais terrível
texto que ele eliminou em Confieso que
he vivido é o que trata do que ele chamou de “tráfico dos perseguidos”.
Trata-se de um parágrafo do VIII capítulo das Memorias da revista O Cruzeiro. Era no início da guerra
quando Paris apagava suas luzes para se proteger dos bombardeios
alemães. No había
menos tinieblas en las almas. Junto al olor de sangre que llenaba al llamado
Occidente se despertaba la codicia. Comenzó en los Consulados el tráfico de los
perseguidos.
Por
esos días entré repentinamente a la oficina de un Ministro Diplomático de uno
de nuestros países de América del Sur. Nunca olvidaré la sorprendente visión
que tuve ante mis ojos. Su gran mesa escritorio estaba cubierta de columnas de
monedas de oro. Apenas si puso atención a mi entrada. Siguió tomando las
monedas y organizando sus columnas. El Ministro era un hombre rechoncho y
pálido, con escasos cabellos rubios sobre su brillante cabeza. Sus manos
regordetas iban y venían desplazando las libras esterlinas. Sus blancas manos de monja volaban sobre el
oro.
En
unos días el Ministro se había vuelto millonario. Joyeros de Amsterdam,
comerciantes de Bruselas, judíos acaudalados de todas partes le dejaban esos
tesoros y montones de relojes y collares por una visa o un pasaporte. El
Ministro recibía los presentes, con sus manos de abadesa firmaba los documentos
que garantizaban la escapatoria de los perseguidos, pero, poco después, para
que todo quedara en silencio, denunciaba a la Gestapo los fugitivos. Poco les
había servido la flamante documentación.
Em Confieso que he vivido, igualmente logo
após o relato da partida de Louis Aragon para a frente de batalha vem o mesmo
texto de suas primeiras memórias: Me
acostumbré en aquellos días crepusculares a esa incertitumbre europea que no
tiene revoluciones continuas ni terremotos, pero el veneno mortal de la guerra
saturando el aire y el pan. Por temor a
los bombardeos, la gran metrópoli se apagaba de noche y esa oscuridad de siete
millones de seres juntos, esas tinieblas
espesas en las que había que andar en plena ciudad luz, se me quedaron fijadas
en la memoria. Porém,
ao finalizar o texto, eliminando todo aquele que se lhe seguiu, o retrato do
ministro, um homem desprezível e a menção a seus atos desprezíveis, que por alguma razão, talvez fosse passível de ser identificado,
Neruda não desejou que tornasse a ser
publicado.
Deveras instigante, considerando-se
a sua extensão (cinco parágrafos) a eliminação do texto que aparece nas
memórias de O Cruzeiro que se inicia
com uma frase que á continuação do parágrafo anterior: Era conducto de um tren lastrero. Em Confieso que he vivido, igualmente,
dando continuação ao parágrafo anterior, a mesma frase. Mas o texto que segue é
outro e diferente daquele que foi eliminado que, no entanto, contém informações
que não são em nada negligenciáveis.
Era conductor
de un tren lastrero Estos trenes lastreros conducían piedras y arena que
depositaban entre los durmientes de la línea férrea, para que la intensa lluvia
no moviera los rieles. Debiendo excavar el lastre de las canteras, este tren de
mi padre permanecía en cualquier rincón selvático, por semanas completas.
El tren era novelesco. Primero, la
gran locomotora antigua, luego los innumerables carros planos en los que la pala
excavadora depositaba las pequeñas montañas de la entraña terrestre, después
los carros de los peones, por lo general, rudos gañanes de vida desordenada, y
luego el vagón en que vivían sobre ruedas mi padre y el telegrafista. Todo eso
en medio de faroles de vidrios verdes y rojos, de banderas de ceñales y mantas
de tempestad, de olor aceite, de hierros oxidados, y con mi padre, pequeño
soberano de barba rubia y ojos azules, dominando como un capitán de barco la
tripulación y la travesía.
Viajé
muchas veces por los ramales en esta casita de mi padre que se detenía junto a
la selva primaveral, selva virgen que me reservaba los más espléndidos tesoros,
inmensos helechos, escarabajos deslumbrantes, curiosos huevos de aves
silvestres.
Neste trabalho de relacionar algumas das mudanças feitas no texto das memórias de
1961 quando de sua reescrita para o livro Confieso
que he vivido que visou somente
as eliminações ficou evidente que nos três capítulos iniciais as mudanças e,
assim, também, as eliminações, foram em pequeno número. Somente a partir do
quarto capítulo e que elas começaram, quanto à quantidade, a serem mais
significativas. E quanto aos significados das eliminações, eles parecem ter
sido os mais diversos: os passíveis de serem justificáveis, exigidos pela
passagem do tempo ou outros cujos motivos, aparentemente, não são muito fáceis
ou impossíveis de desvendar. O que, no entanto, não deixou dúvidas foi a
evidência da transformação do texto de 1961 para o seu aproveitamento em Confieso que he vivido que um estudo
mais apurado e abrangente só poderá vir a confirmar. E que,
sem dúvida, mostrará facetas do Poeta quanto a seu cuidado pela forma (valha o
conceito antigo) e quanto à sua maneira de pensar ou de sentir transformada
pela passagem do tempo ou das circunstâncias.
Cecilia Zokner, Trabalho
inédito, Curitiba, 16 de dezembro de 2016